Projeto AGAPe: Caçadores de Monstros - Capítulo 4: AGAPe #3 Argos (Parte 1)

Capítulo 1 (Parte 1 | Parte 2); Capítulo 2 (Parte 1 | Parte 2); Capítulo 3 (Parte 1 | Parte 2)

Voltamos às ruas para caçar AGAPes. A equipe se uniu mais uma vez e a notificação de uma nova criatura atacando por aí surgiu. Desde o último acontecimento isso vem assustando a mim e as pessoas que tiveram que passar pelo mesmo que eu, mas não era hora de temer. Eu sou a líder do grupo e não devo mostrar medo uma hora dessas.

Dessa vez foi no bairro de Coelho Branco, um local que lembrava um pouco o conjunto residencial de Boa Noite, porém estava bastante conservada. Havia poucos moradores residindo por ali, mas havia. De vez em quando um ou outro se arriscava em sair para fazer algo além de ficar trancafiado em casa. O local era cheio de campos de futebol onde as crianças brincavam e praticavam esportes antes do surto dos AGAPes.

Ninguém conseguia explicar direito como era a criatura. A criatura matava com tal precisão que conseguia fugir antes de ser vista. Apelidaram-na de "Medusa", pois quem o via, morria. Porém o motivo da precisão da criatura remete-me a outro conto da mitologia grega: a criatura possuía vários olhos que me mexiam de maneiras independentes. Logo a criatura conseguia fugia antes de ser vista, e quando era vista matava seu observador furando-lhe a barriga com sua única garra que sempre estava ensanguentada com o sangue de suas vítimas. Então dei ao AGAPe o nome de outro personagem da mitologia grega: Argos.

Tentamos não pensar muito no que veríamos por aí. Dividimos em duplas para uma rápida busca (e para não correr o risco de passarmos pela mesma coisa da outra vez). Como sempre meus sentimentos falaram mais altos e quis fazer dupla com Luis, mas ele preferiu ficar com a Lua. Então empurraram-me Shadow Blade.

Shadow não é o tipo de pessoa que eu diria a mais normal, mas naquele grupo ninguém era. Uma coisa eu tinha que concordar com ele: deveríamos descontar toda a nossa raiva sobre os AGAPes. E foi sobre isso que conversamos durante todo o trajeto.

Ouvimos um barulho. Shadow ergueu sua espada com a mão esquerda e sua espingarda com a mão direita. Parecia um caubói em um duelo. Mas era só um esquilo. Aquilo nos trouxe alívio, ainda mais para mim que, em anos caçando anomalias deformadas, vi pela primeira vez uma criaturinha fofa. Agarrei em sua patinha e metade de um corpo de esquilo veio em minha direção.

- Ele está aqui perto. - sussurrou Shadow. - Ainda não tentou contra nós porque não o vimos.

Prosseguimos. Shadow é um cara de poucas palavras mas algo nele me intrigava. Na sua barriga e no seu pescoço haviam tatuagens do nó celta. E ele sempre guarda um broche com o símbolo do nó celta no bolso com quem conversa toda noite antes de dormir, como se estivesse rezando a um deus celta.

- O que significa essa marca em seu pescoço? - tive que perguntar.

Ele não pareceu surpreso quando perguntei, como se estivesse acostumado a esse tipo de pergunta. Tirou o cordão do bolso e exibiu-o para mim.

- Esta é toda a minha lembrança de família. Tenho certeza que deixaram para mim antes de fugirem... ou morrerem. Converso com isso como se fosse minha mãe, conto-lhe todos os meus problemas, meus medos...

E então fomos interrompidos por outro ruído. Armamo-nos, mas era só Suzana e Bruno. Ela o mandava calar a boca.

- Aninha, - disse Suzana - acho que estamos na pista certa da criatura.

- Nós também. - respondi - Não é à toa que nos encontramos.

Atirei-lhe o resto de esquilo que havia encontrado.

- Matar humanos, tudo bem. Mas matar criaturinhas silvestres? Esses monstros estão cada vez mais antiecológicos. - brincou Bruno.

Bem, considerando a quantidade de gás carbônico e radioatividade lançada na atmosfera pela Praça Sextante, daqui a alguns anos os animais que sobraram se tornariam os novos AGAPes.

A noite chegou. Vi Shadow mais uma vez conversar com seu broche, e então tirou a jaqueta. Um grande símbolo do nó celta cobria suas costas. Então ele olhou para mim, piscou, virou o rosto e dormiu.

No dia seguinte eu, Shadow, Suzana e Bruno continuamos procurando pistas da criatura. Então vimos alguém atirado no chão, sangrando. Uma mulher mal conseguia respirar com uma enorme perfuração em seu abdomen. "Eu vi a criatura, e seus vários olhos me viram." foram suas últimas palavras. Olhei para frente e vi algo de mais de dois metros rastejando-se na direção oposta. Era impossível que ele não tenha nos visto. Argos possuía olhos até na parte de trás de sua cabeça. Então ele veio em nossa direção.

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