Capítulo 1 (Parte 1 | Parte 2); Capítulo 2 (Parte 1 | Parte 2)
Lembro-me de minha mãe tentar me convencer a não me unir aos caçadores de monstros. Desde que meu pai morreu ela tenta proteger a mim e a meu irmão que tem transtorno bipolar.
Antes de sair de casa ela me disse: "O que pode destruir vidro?" Não compreendi a pergunta e de uma forma bem irônica respondi: "Uma martelada resolve." Então ela me respondeu: "Se eu cortasse seu braço, você deixaria de ser você?"
Então compreendi que por mais que eu quebrasse o vidro, ele continuaria sendo vidro. Minha mãe me deu um vidrinho com um líquido dentro. "O que é isso?" perguntei. "Vais precisar quando encontrar vidro."
Acordei.
Estava no hospital da base com o lado esquerdo do rosto completamente machucado. A primeira pessoa a vir em minha direção foi Luis.
- Você está bem? Sua queda foi muito feia. Quase você fora esmagada pela árvore.
Então ouvi alguém gemendo do lado d minha maca.
- Eu não consigo mais dormir! - dizia Kowalsky.
- Vai sim. - respondeu Suzana. - Apenas beba isto!
- O que foi? - perguntei a Luis.
- Ele ficou traumatizado desde que teve que matar a velhinha. Foi um golpe duro para ele.
- Vocês não entendem! - disse Kowalsky. - Fui eu que tive que matar a velhinha!
- Não é sua culpa. - respondeu Suzana. - Você fez o que tinha que fazer.
E então Bruno entrou pela porta caminhando como se estivesse dançando, e alegre.
- Vocês não morreram?
Aquilo foi bem sem-graça, mas o que poderíamos esperar de Bruno.
- E então Ana? Você não vai agradecer ao vaqueiro japonês?
- Quem? - perguntei.
- Kenji. - respondeu Luis. - Papa está chamando ele assim desde que montou no AGAPe.
Antes que você me pergunte, às vezes chamamos o Bruno de Papa. Ele é o mais velho da equipe e apesar de viver sempre rindo, muitas vezes nos acolhe como um paizão. Luis tirou o diário de dentro de sua mochila.
- Olha, já cataloguei o AGAPe número um.
- Obrigada. - estava feliz por estar conversando com Luis.
No dia seguinte já estava disposta a sair por aí para caçar novos AGAPes. Caioviskhy ainda me enchia dizendo que se eu fosse uma líder de verdade não teria sofrido aquele acidente, que ele deveria ser o líder, etc. Recebemos o comunicado de outro AGAPe por ali perto. Era no bairro de Boa Noite, mais especificamente em um conjunto residencial. Não demorou muito para chegarmos ali.
O conjunto muito se assimilava a um cenário de apocalipse zumbi. Desde que a criatura apareceu por ali, muitos abandonaram suas casas (como se houvesse algum lugar seguro para ir). Quem teve a coragem de permanecer ali acabou morrendo. Duas casas porém nos chamaram a atenção. Elas não tinham os vidros das portas, característica bem comum da criatura que se funde ao vidro para ganhar mais força e invadir as casas.
Apelidei o AGAPe de criatura de vidro, pois era completamente feita de vidro. Seu rosto lembrava muito ao de um alienígena. O mais assustador da criatura era seu toque. Um simples toque e a pele da vítima se convertia em vidro. Somente a pele.
Dei ordens para a equipe se dividir em dois grupos. Kowalsky disse que ficaria no grupo de Beruccia, pois ela acabara de colher frutas que estavam em sua mochila e ele estava com fome. Sabia que o motivo não era esse e que aquele lerdo acabaria se distraindo e morrendo ou deixando alguém morrer, então o obriguei a ficar no meu grupo. Pus o vaqueiro japonês, digo, Kenji para liderar o outro grupo. Em meu grupo ficaram Kowalsky, Lua, Gabriel, Bruno e, claro, Luis. Sei que eu não era a pessoa certa para julgar Kowalsky.
Adentramos em uma casa e o grupo de Kenji adentrou na outra. Pude ouvir Caioviskhy provocando seu líder dizendo: "Se a criatura aparecer você pula nela!"
A primeira coisa que vimos foi a vítima da criatura, caída no chão e espatifada em vários pedaços. Infelizmente seus órgãos não viraram vidro. Vários pedaços de tripas, fígado e sangue espalhados por toda a sala. Tentamos prosseguir sem olhar para aquela cena nojenta e procuramos a criatura que fez aquilo. Ouvi Lua gritar.
- Que droga você fez?
Kowalsky acabou vomitando em cima dela. Não havíamos trago água mas Gabriel sempre traz em seu estojo de ciências para futuras experiências. Usamos água para limpar sua roupa. Bruno não teve o que fazer a não ser rir. Encostou-se na janela e começou a gargalhar e fazer piadas. Mas um grito o interrompeu.
- Afaste-se da janela! - gritou Luis.
Em um pulo Bruno afastou-se do vidro da janela e olhou. A criatura de vidro o observava.
- Tranquem a porta! - gritei. Todos correram, procuraram madeira, martelo, pregos e fecharam o buraco da porta onde outrora havia um vidro.
A criatura pôs sua mão sobre o vidro e começou a fundir-se a ele. Era um processo demorado, mas até que a criatura terminasse teríamos que ficar trancados ali. Luis armou-se de sua bazuca.
- Vou matar essa criatura em poucos segundos!
- Não! - interrompi. - Não se pode destruir vidro assim.
- Tem razão. - respondeu Gabriel - Devo fazer uma substância que seja capaz de destruir o vidro com a criatura junto.
Gabriel pegou sua mochila e começou a vasculhar seu kit de ciências, juntou substâncias e começou a criar fórmulas. Três horas se passaram e Gabriel começou a socar a própria cabeça.
- Nada está dando certo. - disse ele - Nenhuma destas fórmulas é capaz de destruir vidro.
Lembrei-me do vidrinho que ganhei de minha mãe. Tirei-o da mochila e mostrei para Gabriel.
- Isto deve servir.
Ele percebeu que aquela substância era o que faltava. Fez umas coisas estranhas para acender fogo e misturou a substância aos seus ingredientes.
- Quando isso ficará pronto? - perguntou Lua.
- Em quatro dias. - respondeu Gabriel.
- Quatro dias! - disse Luis. - Até lá a criatura já terá nos pego!
- Não no ritmo em que ela está indo. - disse Gabriel. E ele tinha razão. A criatura se fundia ao vidro de uma maneira tão lenta que a fórmula estaria pronta antes mesmo dela conseguir invadir a casa.
Ficávamos imaginando o que o outro grupo estaria fazendo. Será que eles foram embora? Por que não apareceram para nos salvar? A noite caiu, mas não conseguimos dormir. Tentamos ficar em turnos mas ninguém conseguia descansar naquela noite, mesmo tendo alguém ali para vigiar.
Chegou então o segundo dia. Bruno pareceu mais louco do que de costume.
- Vamos morrer! Vamos todos virar estátuas de vidro! Eu quero virar enfeite no Central Park!
Então percebi que realmente tínhamos um problema: estávamos sem comida. Beruccia levou consigo a mochila com todo o nosso suplemento de alimento. Se eles estavam trancados na casa como nós, pelo menos tinham comida e água.
Terceiro dia chegou e a fome não se tornou nosso único problema. Ninguém conseguia dormir, logo, ninguém amanhecia disposto. Não demorou muito para Kowalsky começar a se sentir mal enquanto Bruno dizia:
- Vamos comer uns aos outros, só assim poderemos sobreviver! Vamos decidir no pedra papel e tesoura!
Naquele momento eu não sabia mais se ele estava só brincando.
Então compreendi que por mais que eu quebrasse o vidro, ele continuaria sendo vidro. Minha mãe me deu um vidrinho com um líquido dentro. "O que é isso?" perguntei. "Vais precisar quando encontrar vidro."
Acordei.
Estava no hospital da base com o lado esquerdo do rosto completamente machucado. A primeira pessoa a vir em minha direção foi Luis.
- Você está bem? Sua queda foi muito feia. Quase você fora esmagada pela árvore.
Então ouvi alguém gemendo do lado d minha maca.
- Eu não consigo mais dormir! - dizia Kowalsky.
- Vai sim. - respondeu Suzana. - Apenas beba isto!
- O que foi? - perguntei a Luis.
- Ele ficou traumatizado desde que teve que matar a velhinha. Foi um golpe duro para ele.
- Vocês não entendem! - disse Kowalsky. - Fui eu que tive que matar a velhinha!
- Não é sua culpa. - respondeu Suzana. - Você fez o que tinha que fazer.
E então Bruno entrou pela porta caminhando como se estivesse dançando, e alegre.
- Vocês não morreram?
Aquilo foi bem sem-graça, mas o que poderíamos esperar de Bruno.
- E então Ana? Você não vai agradecer ao vaqueiro japonês?
- Quem? - perguntei.
- Kenji. - respondeu Luis. - Papa está chamando ele assim desde que montou no AGAPe.
Antes que você me pergunte, às vezes chamamos o Bruno de Papa. Ele é o mais velho da equipe e apesar de viver sempre rindo, muitas vezes nos acolhe como um paizão. Luis tirou o diário de dentro de sua mochila.
- Olha, já cataloguei o AGAPe número um.
- Obrigada. - estava feliz por estar conversando com Luis.
No dia seguinte já estava disposta a sair por aí para caçar novos AGAPes. Caioviskhy ainda me enchia dizendo que se eu fosse uma líder de verdade não teria sofrido aquele acidente, que ele deveria ser o líder, etc. Recebemos o comunicado de outro AGAPe por ali perto. Era no bairro de Boa Noite, mais especificamente em um conjunto residencial. Não demorou muito para chegarmos ali.
O conjunto muito se assimilava a um cenário de apocalipse zumbi. Desde que a criatura apareceu por ali, muitos abandonaram suas casas (como se houvesse algum lugar seguro para ir). Quem teve a coragem de permanecer ali acabou morrendo. Duas casas porém nos chamaram a atenção. Elas não tinham os vidros das portas, característica bem comum da criatura que se funde ao vidro para ganhar mais força e invadir as casas.
Apelidei o AGAPe de criatura de vidro, pois era completamente feita de vidro. Seu rosto lembrava muito ao de um alienígena. O mais assustador da criatura era seu toque. Um simples toque e a pele da vítima se convertia em vidro. Somente a pele.
Dei ordens para a equipe se dividir em dois grupos. Kowalsky disse que ficaria no grupo de Beruccia, pois ela acabara de colher frutas que estavam em sua mochila e ele estava com fome. Sabia que o motivo não era esse e que aquele lerdo acabaria se distraindo e morrendo ou deixando alguém morrer, então o obriguei a ficar no meu grupo. Pus o vaqueiro japonês, digo, Kenji para liderar o outro grupo. Em meu grupo ficaram Kowalsky, Lua, Gabriel, Bruno e, claro, Luis. Sei que eu não era a pessoa certa para julgar Kowalsky.
Adentramos em uma casa e o grupo de Kenji adentrou na outra. Pude ouvir Caioviskhy provocando seu líder dizendo: "Se a criatura aparecer você pula nela!"
A primeira coisa que vimos foi a vítima da criatura, caída no chão e espatifada em vários pedaços. Infelizmente seus órgãos não viraram vidro. Vários pedaços de tripas, fígado e sangue espalhados por toda a sala. Tentamos prosseguir sem olhar para aquela cena nojenta e procuramos a criatura que fez aquilo. Ouvi Lua gritar.
- Que droga você fez?
Kowalsky acabou vomitando em cima dela. Não havíamos trago água mas Gabriel sempre traz em seu estojo de ciências para futuras experiências. Usamos água para limpar sua roupa. Bruno não teve o que fazer a não ser rir. Encostou-se na janela e começou a gargalhar e fazer piadas. Mas um grito o interrompeu.
- Afaste-se da janela! - gritou Luis.
Em um pulo Bruno afastou-se do vidro da janela e olhou. A criatura de vidro o observava.
- Tranquem a porta! - gritei. Todos correram, procuraram madeira, martelo, pregos e fecharam o buraco da porta onde outrora havia um vidro.
A criatura pôs sua mão sobre o vidro e começou a fundir-se a ele. Era um processo demorado, mas até que a criatura terminasse teríamos que ficar trancados ali. Luis armou-se de sua bazuca.
- Vou matar essa criatura em poucos segundos!
- Não! - interrompi. - Não se pode destruir vidro assim.
- Tem razão. - respondeu Gabriel - Devo fazer uma substância que seja capaz de destruir o vidro com a criatura junto.
Gabriel pegou sua mochila e começou a vasculhar seu kit de ciências, juntou substâncias e começou a criar fórmulas. Três horas se passaram e Gabriel começou a socar a própria cabeça.
- Nada está dando certo. - disse ele - Nenhuma destas fórmulas é capaz de destruir vidro.
Lembrei-me do vidrinho que ganhei de minha mãe. Tirei-o da mochila e mostrei para Gabriel.
- Isto deve servir.
Ele percebeu que aquela substância era o que faltava. Fez umas coisas estranhas para acender fogo e misturou a substância aos seus ingredientes.
- Quando isso ficará pronto? - perguntou Lua.
- Em quatro dias. - respondeu Gabriel.
- Quatro dias! - disse Luis. - Até lá a criatura já terá nos pego!
- Não no ritmo em que ela está indo. - disse Gabriel. E ele tinha razão. A criatura se fundia ao vidro de uma maneira tão lenta que a fórmula estaria pronta antes mesmo dela conseguir invadir a casa.
Ficávamos imaginando o que o outro grupo estaria fazendo. Será que eles foram embora? Por que não apareceram para nos salvar? A noite caiu, mas não conseguimos dormir. Tentamos ficar em turnos mas ninguém conseguia descansar naquela noite, mesmo tendo alguém ali para vigiar.
Chegou então o segundo dia. Bruno pareceu mais louco do que de costume.
- Vamos morrer! Vamos todos virar estátuas de vidro! Eu quero virar enfeite no Central Park!
Então percebi que realmente tínhamos um problema: estávamos sem comida. Beruccia levou consigo a mochila com todo o nosso suplemento de alimento. Se eles estavam trancados na casa como nós, pelo menos tinham comida e água.
Terceiro dia chegou e a fome não se tornou nosso único problema. Ninguém conseguia dormir, logo, ninguém amanhecia disposto. Não demorou muito para Kowalsky começar a se sentir mal enquanto Bruno dizia:
- Vamos comer uns aos outros, só assim poderemos sobreviver! Vamos decidir no pedra papel e tesoura!
Naquele momento eu não sabia mais se ele estava só brincando.
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