Projeto AGAPe: Caçadores de Monstros - Capítulo 5: AGAPe #4 A Serpente Emplumada (Parte 1)

Capítulo 1 (Parte 1 | Parte 2); Capítulo 2 (Parte 1 | Parte 2); Capítulo 3 (Parte 1 | Parte 2); Capítulo 4 (Parte 1 | Parte 2)

Durante um tempo na mesma equipe acabamos criando relações, sendo elas boas ou ruins. Mas um exemplo de relação claramente ruim, se não péssima, é a de Caioviskhy e Kowalsky. Uma relação que vai muito além de um não conseguir pronunciar o nome do outro.

Caioviskhy é o tipo de pessoa que adora pregar peças em pessoas distraídas, e Kowalsky é o tipo de pessoa que sempre cai nelas. A pior delas foi quando Kowalsky entrou em sua barraca e ela estava toda suja de lama, então teve que dormir ao relento onde foi atacado por formigas jogadas por Caioviskhy. Então foi se lavar em um rio ali perto e teve suas roupas furtadas. Chegou no acampamento só de cueca e, para a surpresa, Caioviskhy chamou a todos que estavam dormindo dizendo que um AGAPe havia se aproximado. Todos riram. Tive que enrola-lo em um lençol e leva-lo até minha barraca. Luis não concordou com as risadas, tampouco Shadow.

Estávamos acampados em um campo aberto, próximo a uma floresta, quando Caioviskhy e Kowalsky começaram a brigar novamente. A situação ficou crítica quando Caioviskhy sacou sua arma e apontou para a cabeça de Kowalsky que no susto caiu para trás e apontou-lhe uma flecha. Tive que intervir. Já não bastasse o que faziam normalmente. Fiquei entre os dois no exato momento em que Caioviskhy disferia um soco em direção a Kowalsky, e acertou meu nariz.

É difícel arrumar um castigo para um desordeiro de uma equipe quando caçar AGAPes já é um castigo. Mandei Caioviskhy para sua barraca e disse que pensaria em seu castigo. Fiz o mesmo com Kowalsky. Com a quantidade de AGAPes andando por aí é difícil imaginar como essa gente ainda tem tempo para brigas.

Era tarde quando fomos atacados pela criatura emplumada. Suas penas passaram próximas do meu nariz e, descobrindo da pior maneira que sou alérgica, espirrei. A criatura me ouviu e veio em minha direção. Não que a criatura não enxergava, apenas queria um motivo para vir atrás de mim. Acho que quando nos tornamos líder de uma equipe ganhamos um cheiro que atrai AGAPes para nossa direção. E o monstro não necessitava da pessoa estar viva para engoli-la inteira, apenas usando sua presa envenenada para matar aquelas que ainda estavam vivas.

Vi a criatura vindo em minha direção, suas presas pingavam o veneno. Alguém deveria fazer uma votação para novo líder e decidir qual seria o castigo apropriado para Caioviskhy e Kowalsky pensei. Porém outro pensamento me veio quando vi um galho ao meu lado. Atirei-o na boca da Serpente Emplumada que tentava a todo custo tira-la já que não tinha braços – era uma serpente.

Enquanto escapávamos vi a criatura se retorcendo para tentar fechar a boca. Fomos em direção a uma cidade mais ou menos povoada. Quando nos viram, perceberam que onde há caçadores de monstros há AGAPes, entraram em pânico e correram como loucos. Sem necessidade. Ainda não havia registro de AGAPes por ali e a Serpente Emplumada tinha ido para o lado oposto.

Hospedamos em uma casa onde fomos acolhidos por uma mulher de quarenta anos e sua família. Depois da morte da velhinha que nos acolheu, e que nem chegamos a descobrir seu nome, receiamos oferecer riscos àquela família. Não podíamos ficar ali por muito tempo, a Serpente Emplumada logo “sentitia meu cheiro” e viria atrás de mim. Foi quando uma ideia me ocorreu.

A vontade que eu tinha era amarrar Caioviskhy e Kowalsky juntos e tranca-los no armário até fazerem amizade. Até onde sei, eles estudavam na mesma escola.  Caioviskhy era o tipo de garoto que matava aula para jogar futebol enquanto Kowalsky ficava em sala estudando e tendo seus livros derrubados por garotos do tipo do Caioviskhy. Nas avaliações, Caioviskhy pedia cola para Kowalsky que sempre negava. Então o ciclo recomeçava.

A ideia me veio. Não preciso amarra-los e atira-los no armário e sim manda-los juntos ao encontro do AGAPe. Sei que é perigoso, porém dessa maneira eles fariam de tudo para sobreviver, até pedirem ajuda um ao outro. E a criatura não viria em nossa direção (a menos que eu tenha razão na teoria do cheiro).

- Eu não vou! Muito menos com o Kowalsky! - disse Caioviskhy quando lhe ordenei.

- Ele tem razão. - disse Gabriel – É muito arriscado para somente duas equipes. Se com uma equipe completa já ocorreu toda a destruição do nosso acampamento.

Gosto de Gabriel, ele é muito inteligente, mas naquele momento tive uma leve vontade de dar-lhe uma surra. Fiz minha cara de mais brava o possível e respondi:

- Sei o que estou fazendo.

Ele tentou dizer algo mais. Interrompi-o.

- Se quiser, mando-te sozinho para outra direção.

Gabriel nunca sairia sozinho em missão. Mal ele quer uma acompanhado. Mexeu a cabeça em desacordo e retirou-se.

- Estamos em acordo? - perguntei aos dois. Kowalsky concordou, porém Caioviskhy respondeu:

- Sabe que eu não te obedeço por ser uma garota, né?

- Luis, de quanto é a pena para quem não segue as ordens do líder.

- É de dois anos Ana.

Caioviskhy continuou a reclamar. Kowalsky virou em sua direção e disse:

- Que foi? Está com medo de eu ter que salva-lo?

- Salvar-me? Você que é a princesa indefesa!

E foi nesses desacordos que eles partiram, apostando quem seria mais salvo pelo outro.


Já era noite e os dois não voltaram. Gabriel me fuzilava com os olhos. Estava com medo dele ter razão. Ele sempre tinha. Que besteira a minha enviar duas pessoas desconcentradas para uma missão suicida. Batem à porta. Alguém trazendo o que sobrou do corpo dos dois pensei.

À porta estava Kowalsky, rindo muito, e Caioviskhy completamente sujo... de cocô. As penas ao redor de seus corpos indicavam o sucesso da missão. Caioviskhy queria matar a mim e ao Kowalsky, mas ao invés disso só murrou a parede. De dentro de sua sacola de flechas Kowalsky reitou a presa da criatura e deu-a em minhas mãos. O veneno ainda pingava.

- Esse veneno poderá nos ser útil.

Nunca pensei nisso mas Kowalsky poderia ser inteligente tanto quanto Gabriel, mas ele nunca teve a oportunidade de exibir sua inteligência, tímido do jeito que é. Porém outra coisa me intrigava.

- Mas o que foi que aconteceu.

- É uma longa história. Mas eu gostaria de conta-la detalhe por detalhe. - disse Kowalsky enquanto olhava os olhares de ódio de Caioviskhy, ainda sujo – Sente-se. Vou te contar.

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